CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS




Exposição Internacional: Tecelãs Pro Arte contam suas histórias pelo Fio da Vida

30/07/2025 16:42:05

Atualizado em 30/07/2025 17:30:00

Até o dia 31 de agosto, o Centro Cultural Feso Pro Arte recebe o III Encontro Internacional de Arte Têxtil – O Fio da Vida. A abertura aconteceu no dia 11 de julho, às 18h, dando início a um evento que convida o público a refletir sobre o que o fio da vida pode revelar.

Sob a curadoria de Alexandre Heberte, referência na arte têxtil contemporânea, o encontro reúne artistas do Brasil e do mundo em uma celebração que entrelaça arte, ancestralidade, território e identidade. Com exposições, seminário, documentário e visitas mediadas, o projeto proporciona uma imersão poética e política nos fios que nos conectam à memória, à natureza e ao outro.

A exposição principal, “O Fio da Vida”, idealizada por Rossana Cilento e o coletivo Nós-Entrelaçadas (SP), é uma trama coletiva que reúne mais de 100 participantes, entre artistas, artesãs, designers e o grupo das Tecelãs Pro Arte, alunas do curso livre de tecelagem do Centro Cultural. Ao todo, foram enviados 78 fios de diferentes regiões, cada um contando uma história singular que contribui para a narrativa coletiva da mostra.

Além disso, o evento apresenta a exposição individual da arquiteta, curadora e artista multimídia Andréa Dall’Olio (CE), que traz o trabalho “Têxtil entre ancestralidade e contemporaneidade”, e a coletiva “Parques por um Fio – Pelas Linhas da Preservação”, que reúne 100 bordados inspirados na fauna, flora e paisagens dos Parques Nacionais brasileiros, idealizada pelo coletivo Fio às Cinco em Pontos e realizada pelo grupo Linhas da Gamboa (RJ), com o objetivo de sensibilizar o público para a conservação ambiental.

Segundo a organizadora Silviane Lopes, que atua há 25 anos no Centro Cultural, “recebemos fios de todos os lugares do Brasil e de alguns outros países, e além do trabalho no ateliê de tecelagem, as alunas desenvolvem seus próprios fios da vida, cada um com sua história”.

A presidente do Conselho do Centro Cultural, Vanessa Barini, reforça o valor do evento: “Estamos muito orgulhosos de apresentar uma exposição tão significativa que valoriza a ancestralidade e a conecta com a arte contemporânea”.

Para o curador Alexandre Heberte, “a arte contemporânea, a partir das linhas e fios, promove encontros e entrelaçamentos, conectando pessoas e histórias”.

A idealizadora do projeto, Rossana Cilento, destaca a dimensão do evento: “Começamos em Tupã (SP) durante a pandemia e, agora, com a colaboração de mais de 100 participantes, trazemos para Teresópolis uma exposição que é uma verdadeira narrativa coletiva, onde cada fio representa uma vida”.

O evento é aberto ao público, com entrada gratuita, e oferece uma experiência única de arte e reflexão sobre conexões, memórias e preservação.



Conheça algumas histórias das Tecelãs Pro Arte na exposição “O Fio da Vida”



“Todos os dias, eu rezo o terço — pelas minhas amigas, pelos meus parentes e por aqueles que já partiram. Gosto de rezar ao acordar e antes de dormir. A oração faz parte da minha rotina, da minha fé e da minha vida. Por isso, o meu Fio da Vida é representado por um terço que confeccionei com várias flores. Cada flor simboliza uma pessoa especial que já se foi, mas que continua presente em meu coração. Esse trabalho é, para mim, uma forma de homenagem, de lembrança e de gratidão por todas essas vidas que tocaram a minha.” - Zoe Matos de Sá



 



“Para essa exposição, me inspirei na memória afetiva do meu pai, Cristino, que, entre tantas coisas, tinha o hobby de pescar. Ele faleceu quando eu tinha apenas 9 anos, mas me lembro bem da infância e de como ele sempre trazia muitos peixes para casa. Essa lembrança me motivou a criar esse trabalho no tear. A obra começa representando a riqueza do mar — com conchas, corais, pérolas e, claro, os peixes. Em seguida, aparece o azul do mar, povoado pelos peixes que eu mesma produzi. Para capturá-los, claro, são necessários o caniço, o anzol, a isca. Essa linha que percorre a obra é realmente tecida com uma rede de pescador, simbolizando fortemente essa figura. E, ao final, como na lembrança que me acompanha, ele voltava para casa com os peixinhos no balde. Minha intenção foi justamente essa: iniciar pela abundância do mar, seguir por suas profundezas e, por fim, trazer à tona a produção que meu pai compartilhava conosco. Em casa, começava um novo processo — o cuidado com os peixes que, depois, se tornavam alimento. Essa é a memória que me guiou neste trabalho.” - Marília Cunha Cavalcanti d’Albuquerque

 



“Bom, o meu trabalho foi inspirado no tema “Fio da Vida”, pensando especialmente na concepção, no surgimento da vida. Essas bolinhas que aparecem na obra representam os ovos, que vão crescendo e se transformando em um ser. É uma metáfora para as diferentes fases da vida pelas quais passamos. Escolhi usar cores vivas para transmitir a ideia de uma vida alegre, cheia de energia e esperança que está nascendo. Essa foi a minha intenção ao criar o trabalho.” - Silvia Mamede



 



“O meu trabalho representa o meu Fio da Vida. Ao longo das várias fases que vivi, percebi que cada uma delas poderia ser representada por uma cor. Usei a linha — o próprio fio — para colorir esses momentos: a infância, o casamento, o nascimento dos meus filhos, o luto… Cada etapa da vida foi ganhando cor nesse processo. E a grande conclusão a que cheguei é que a minha vida foi maravilhosa, muito colorida e cheia de amor. Isso me trouxe uma enorme felicidade. Recomendo a todos que façam esse exercício do Fio da Vida, relembrando as etapas vividas e tudo aquilo que marcou o passado — e também refletindo sobre o que ainda desejam para o futuro. A nossa felicidade depende muito das escolhas que fazemos, e temos o privilégio do livre-arbítrio. Então, vale a pena olhar com carinho para o fio que tece a nossa própria história.” - Gloria Cardoso de Almeida Cruz



“Utilizei restos de linhas e cordas de macramê, uma técnica que aprendi com a minha avó e com meu irmão. Estar aqui tem um significado especial para mim, porque vejo o macramê como uma representação da própria vida — feita de nós que damos e, muitas vezes, precisamos desatar. É assim que seguimos: entrelaçando experiências, superando desafios, reconstruindo caminhos. Cada nó carrega uma história, um aprendizado, uma escolha. E é por isso que estar aqui, com esse trabalho, é também uma forma de celebrar a trajetória que venho tecendo ao longo do tempo.” - Ana Lucia Infante



 



“Então, o “Filho da Vida”, na verdade, representa essa ideia de que estamos sempre aprendendo e experimentando coisas novas. Isso é a vida: um aprendizado constante. Eu senti esse chamado de criar o “Filho da Vida” justamente para me abrir a algo novo — aprender uma técnica antiga, usada pelos vikings e por civilizações muito antigas, chamada de “sprang”. Ela não é exatamente um fio tradicional, mas uma espécie de rede, um entrelaçado de fios que vai se formando a partir do cruzamento entre eles. O resultado vai surgindo naturalmente, quase como um tecido que se constrói por si. Depois, fui apenas agregando essa rede a pedaços de madeira para demonstrar a qualidade do que havia sido feito. Não há um significado profundo por trás disso, além da própria experiência de explorar algo novo. E, para mim, isso é o fio da vida: estar sempre aprendendo.” - Irene Beibe Goldberg

 



“Este representa o Fio da Vida: Quando a gente nasce, começa a construir várias amizades. No começo da vida, elas são muitas. Mas, com o passar do tempo, essas amizades vão diminuindo — uns morrem, outros se mudam, casam, vão morar em outro país… E assim a gente vai perdendo contato, até chegar na velhice, quando restam uma ou duas amizades, só. E então, esta é a história do ‘Fim da Vida’, em relação às amizades.” - Maria Luisa Bernardo Moura





 



“Quando a nossa professora falou sobre o tema Fio da Vida, eu, que trabalhei por 47 anos no Museu Nacional — que infelizmente pegou fogo —, logo me lembrei de representar a germinação de uma semente. Para mim, isso simboliza o verdadeiro Fio da Vida, o início de tudo. Então, criamos um pequeno caule em processo de germinação, com raízes adventícias, que servem para fixar o vegetal, além da raiz principal. Representamos também os cotilédones, que são as primeiras folhas, e seguimos com o caule até surgirem as primeiras folhas definitivas da planta. Esse processo representa, para mim, o começo da vida. Poderia ter feito um bebê nascendo, por exemplo, mas isso seria mais difícil — então escolhi algo que fizesse sentido dentro da minha área de conhecimento, com a qual trabalhei por tantos anos.” - Maria Célia Rodrigues Correia



Por Giovana Campos


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